sexta-feira, 29 de abril de 2016

Os mosteiros e as granjas cisterciences

No ano da morte de São Bernardo (1153), existiam na Europa 350 abadias cisterciences, das quais 62 em França. Um século depois, a contagem eleva-se a 650! Um número impressionante para a época. No Vale do Douro, em meados do século XII são erigidos 4 mosteiros: São João de Tarouca (o primeiro em Portugal), Santa Maria de Salzedas, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar.

O local de implantação do mosteiro tinha grande relevo na exigência de Cister: em geral deveria ser afastado dos povoados, ter acesso facilitado à água, ser próximo de campos cultiváveis, ter as condições para a criação de gado e a presença de floresta, tudo numa dinâmica de auto-suficiência. Sob o lema do "Ora et Labora" (reza e trabalha) beneditino, os monges tinham um trabalho intenso a todos níveis, uma vida de oração constante e uma profunda atitude de obediência perante o abade do mosteiro.

O aparecimento de granjas (celeiros e quintas) dependentes da abadia principal mas fora do espaço monacal, num raio de 5 a 20 km, permitiu desenvolver uma boa agricultura e nomeadamente a qualidade do vinho. Estes terrenos apresentavam uma qualidade superior para uma maior variedade de plantação. Cada granja, gerida pelo magister grangiarum e celeireiro, era dotada de uma organização eficiente em que os irmãos conversos (leigos com características de monges) viviam e trabalhavam nela. As granjas funcionavam como uma extensão do mosteiro, em que de acordo com as necessidades, os monges ajudavam no trabalho. As granjas multiplicavam-se por compra ou doação. Em pouco tempo, os monges possuíam dezenas e até mesmo centenas de hectares de terrenos agrícolas de grande qualidade. Muitos destinavam-se à produção de vinhos para a celebração do rito eucarístico. No entanto, com o passar das décadas, o vinho começou a ter fama de tão boa qualidade que os monges foram "obrigados" a vendê-lo para enfrentar as dificuldades económicas, contrariando assim a Regra que proibia qualquer comercialização.

Mosteiro de São João de Tarouca 
Créditos: Daniel Almeida

Fontes:
Do vinho de missa de Cister ao vinho do Porto (a magna karta de 1132) / Altino Moreira Cardoso.

Cister no Vale do Douro / Geraldo J. A. Coelho Dias...[ET AL.]; Coord. Ed. Gaspar Martins Pereira, JOSÉ Ignácio De La Torre Rodriguez, Victor Gomes Teixeira; Fot. Egídio Santos.

Les Cisterciens / Textes Réd. Avec la collab. de Julie Roux; Conseillers Historiques Et Religieux, Les Moines De L'abbaye D'Acey, Nicolas D'andoque.

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