sábado, 7 de maio de 2016

São Bernardo e Portugal

Em 1843, um incêndio no Seminário de Viseu destruiu muitos documentos sobre a Ordem de Cister no Douro. Apesar deste infortúnio, existe algum material documental e arqueológico em que se possa datar aproximadamente a chegada dos cistercienses e saber as razões de tal vinda. 
Sabe-se que a organização cisterciense irradiou a Cristandade Medieval pela Europa no século XII, por meio de cinco abadias-mães: Cister (1098), La Ferté (1113), Pontigny (1114), Claraval (1115) e Morimond (1115). A Claraval, estavam afiliados a totalidade dos mosteiros cistercienses portugueses. 
Um elo de ligação indirecta entre São Bernardo de Claraval e Portugal dá-se na II Cruzada. Em 1144, os turcos tomam a cidade de Edessa aos cristãos. Dois anos depois, O Papa Eugénio III, cisterciense, emite a bula Quantum Praedecessores e encarrega São Bernardo de pregar a Cruzada em direcção à Terra Santa. O seu apelo é proclamado em vários países europeus, a sua pregação é frenética e entusiasta.


São Bernardo prega a II Cruzada em Vézelay, França.
Fonte: http://www.wikiwand.com/fr/Basilique_Sainte-Marie-Madeleine_de_V%C3%A9zelay

Numa Europa Cristã, a urgência de intervir era um dever e muitos tomaram a cruz como foi o caso do rei de França, Luis VII, o imperador Germânico, Conrado III, além de flamengos, ingleses e gentes da borgonha.
A Cruzada foi um desastre. Nem sequer se conseguiu apoiar os cristãos na Terra Santa nem recuperar o que se tinha perdido. Contudo, os flamengos, ingleses, escoceses, alemães e as demais nacionalidades, costumes e línguas que vieram por mar ajudaram Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros em 1147. Foi uma vitória importante na consolidação do Reino de Portugal e na Reconquista Cristã.


Tomada de Lisboa aos Mouros, 1147.
Fonte:http://2.bp.blogspot.com/-YcdHCW2mKbs/VPI9SqjIlHI/AAAAAAAAEG4/XMoieFdxZes/s1600/lisboa_1147.jpg

Como acto de agradecimento ao Santo de Claraval, Afonso Henriques, doa à Ordem de Cister um total de 44 mil hectares de terras em que se inclui a construção do Mosteiro de Alcobaça (1153), no intuito de povoar os territórios recém-conquistados e consolidar os laços com Roma submetendo-se totalmente ao Papa.
Quanto ao Douro, existem referências de especialistas do estabelecimento dos monges brancos ainda antes da independência de Portugal (1143). Esse espaço temporal decorre entre a década de 30 e 40. O especialista francês sobre a Ordem de Cister, Maur Cocheril, afirma sobre Tarouca "que lá havia cistercienses em 1144, que o Abade se chamava João, que os monges procediam de Claraval e que o Prior, portanto o substituto do Abade (pois deve respeitar-se desta vez a hierarquia monástica), se encontrava nesse mesmo ano junto do rei com alguns dos seus confrades." O Mosteiro de São João de Tarouca é comummente aceite como a primeira fundação cisterciense em território português embora persiste uma dúvida em relação à sua edificação de raiz. Pensa-se que teria sido a reabilitação de um antigo mosteiro beneditino dado o número de 8 monges provenientes de Claraval. No caso de uma edificação nova, o envio é de 12 monges da abadia-mãe. Em 1140, D. Afonso Henriques concede carta de couto ao mosteiro (beneditino?) para compensar os frades na ajuda cedida na conquista de Trancoso ao mouros. A presença cisterciense neste período conturbado da história de Portugal firma-se por uma articulação entre o religioso e militar, no avanço cristão e no apoio dos Cruzados em direcção à Terra Santa.

Uma lenda espelhada nos azulejos da Capela-Mor do Mosteiro de São João de Tarouca explica o porquê da vinda dos monges brancos ao Condado Portucalense: São João Baptista aparece a São Bernardo pedindo-lhe que envie os seus monges fundar mosteiros em terras lusitanas; os monges vêem um raio a descer do céu indicando o local para construir o seu mosteiro. Esta lenda de fundação baseia-se na "Crónica de Cister" de Fr. Bernardo de Brito alimentando assim o imaginário dos artistas cistercienses.

A vinda dos monges da Borgonha transformaram e desenvolveram sobretudo a viticultura das regiões do Alto Douro e do Távora-Varosa. Trouxeram com eles as varas (castas) que plantaram e implementaram técnicas que ainda hoje fazem os melhores vinhos do mundo. A próxima publicação debruçar-se-á sobre este assunto.



Imagem
In O esplendor da austeridade




Fontes:
COCHERIL, Maur – Abadias Cistercienses portuguesas. Lusitania Sacra. Lisboa. ISSN 0076-1508. 4 (1959) 61-92
Cister no Vale do Douro / Geraldo J. A. Coelho Dias...[ET AL.]; Coord. Ed. Gaspar Martins Pereira, JOSÉ Ignácio De La Torre Rodriguez, Victor Gomes Teixeira; Fot. Egídio Santos.
http://revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=1043
http://www.mosteiroalcobaca.pt/pt/index.php?s=white&pid=231
http://www.cm-tarouca.pt/patrimonio-historico/patrimonio-edificado
http://www.snpcultura.org/ordem_cister_heranca_cultural_portugal_europa.html









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