sexta-feira, 13 de abril de 2018

Paul Symington refere os cistercienses como os criadores dos vinhos do Douro

                              Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=LXmt3CKgywo&t=992s
                              Ver: 7'36'' a 9'38"

Segue abaixo uma transcrição de um discurso de Paul Symington aquando de uma prova vertical de Vintage Port da Cockburn's (1863 até 2011) em Londres em 2015. A família Symington sendo originária da Escócia, produz Vinho do Porto desde 1882 e actualmente é a quinta geração que está no comando de todos os aspectos inerentes ao negócio. O curioso deste discurso é a referência à Ordem de Cister como produtores de bons vinhos no Douro desde a sua chegada a Portugal no séc. XII:

"At 1147, in the second crusade, the king Afonso, the I of Portugal, convinced a lot of crusaders, most of them English, but also Dutch and Flemish, to stop off in Lisbon, to catch Lisbon from the Moors. Many of them stayed on. The first bishop of Lisbon was an Englishman and many of the crusaders settled down in Santarém valley.
So I think is somewhat unlikely that the British were in Porto in 1147. It would take them 500 years to get to the Douro. As if there was some sort of barrier around the Douro: there’d be lions or… it’s just nonsense.
At 1153, the Cistercians founded two great monasteries in the Douro valley – no one talks about them. Tarouca and Salzedas. The next time you go to the Douro, go and see these monasteries. They owned hundreds of hectares of vineyard and land and it is almost certain that this Cistercians were making wine, and very good wine back in the 12th and 13th centuries. This is where the merchants found their wine, for absolute certain. And it’s a great misreading of history to think that the English somehow invented the wines of the Douro. But the first Anglo-Portuguese alliance was in 1373; treated of Windsor in 1386; and in 1387, John of Gaunt’s daughter, Phillippa of Lancaster, married King John, the I of Portugal, in Porto. Again, I think is somewhat unlikely that the English who came with Phillippa of Lancaster (many did) founded (terrifying) to go to the Marão to the Douro region, which after all is only about 2 days on a horse.
So this is all a myth…
As you all know, Catarina de Bragança married Charles the II of England in 1662. These two marriages are pretty much the reason why Port is what it is today, certainly in this market."

Neste discurso, Paul Symington incentiva os críticos e jornalistas de vinho a irem visitar os Mosteiros de São João de Tarouca e de Santa Maria de Salzedas na próxima viagem ao Alto Douro e fica incrédulo de como ninguém fala deles.
O Vinho do Porto "embrionário" surgiu certamente da ordem monástica de Cister e não de um acidente num tal barco num viagem entre Portugal e Inglaterra.


segunda-feira, 23 de maio de 2016

As primeiras plantações


Os Romanos (Séc. I) já exerciam uma produção de vinho no Douro. Com os Beneditinos, a produção era esporádica e essencialmente para o culto religioso. A chegada dos cistercienses (Séc. XII) revolucionou notavelmente a qualidade e quantidade de vinho produzido. Foram os grandes mestres da vitivinicultura duriense.



Centro Interpretativo Porto e Douro| Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP)


Destaque na exposição actual do IVDP. Os Monges brancos como grandes mestres no desenvolvimento da viticultura duriense.

A "Magna Karta de 1132" é uma escritura (ver documento abaixo) que atesta a venda da Herdade dos Varais (Régua) aos monges de São João de Tarouca. Os monges de Cister trouxeram da Borgonha as varas para plantar nos Varais e iniciar o mais cedo possível a produção de vinho para o Rito Eucarístico. Esta propriedade foi a primeira compra da Ordem no Douro. A qualidade do terroir, assim como, a sua localização e acessibilidade, foram determinantes para o fantástico empreendimento vitivinícola de Cister no Douro. Os 8 monges batedores enviados por São Bernardo escolheram esta zona como sendo a melhor embora dista cerca de 25 Km do mosteiro de São João de Tarouca. O sistema de granjas iria resolver este problema tendo por cooperação os conversos. Em 95 anos, a encosta de Cambres estava coberta de vinhas cistercienses. A Partir de 1132, esta Herdade começou a produzir vinho, ou seja, o "vinho de missa" ou "vinho cheirante de Lamego" que mais tarde por ser exportado desde o Porto ficou com o nome da cidade.


Magna Karta


Fonte: http://goo.gl/DzPst4



 Primeiras Quintas do Douro (Cister)


Fonte: http://goo.gl/f7jTLC

O Historiador e Medievalista A. Almeida Fernandes coloca a data de 1142 na transcrição da escritura. Contudo, de acordo com o investigador Altino M. Cardoso, autor da obra "Do Vinho de Missa de Cister ao Vinho do Porto", a data é de 1132. A.Almeida Fernandes pensa que teria havido um lapso por parte do copista em ter esquecido um X na escritura original e toma a liberdade de acrescentar mais uma década na transcrição. No entanto o erro temporal (a haver?) não é problemático neste estudo.

É de supor que a Herdade dos Varais dita o seu nome das varas que aí foram plantadas pelo monges aquando da sua chegada por volta de 1132. Para não secarem, as varas eram acomodadas em sacos com terra. O método de plantação medieval era o "pé-posto", isto é, plantar directamente a vara na terra ganhando assim raízes e florescendo. Ainda hoje, na Quinta de Mosteirô (foi uma granja de Cister) se planta a casta da mesma forma e se produz um vinho com o nome de Pé Posto. É de enaltecer a perspicácia e sabedoria dos monges brancos por escolherem um local "fértil" de alta qualidade e com uma "elevada produção". No início do Séc. XVI, existe uma referência de que a Quinta de Mosteirô exportava entre 15 mil a 16 mil almudes por ano (cerca de 500 pipas!) para a cidade do Porto (1 almude = 16,8L). Estes dados revelam que existia um empreendimento gigantesco para a época. Ao longo dos tempos, esta Quinta foi aglomerando terrenos ao seu redor constituindo uma base importante no projecto vitivinícola dos monges brancos.


Passados 8 séculos, em Mosteirô, o legado cisterciense perdura e é homenageado por uma via original: a produção de vinhos segundo métodos medievais cistercienses. Os vinhos de Mosteirô têm gozado de grande prestígio arrecadando prémios notáveis a nível internacional.



Rótulo vinho Pé Posto

 

Fontes:
Do vinho de missa de Cister ao vinho do Porto (a magna karta de 1132) / Altino Moreira Cardoso.
http://www.casadosvarais.net/index.php/pt/a-casa
http://www.quintademosteiro.com/pt/sobre/
http://www.culturanorte.pt/pt/noticias/vinho-pe-posto-distinguido/

sábado, 7 de maio de 2016

São Bernardo e Portugal

Em 1843, um incêndio no Seminário de Viseu destruiu muitos documentos sobre a Ordem de Cister no Douro. Apesar deste infortúnio, existe algum material documental e arqueológico em que se possa datar aproximadamente a chegada dos cistercienses e saber as razões de tal vinda. 
Sabe-se que a organização cisterciense irradiou a Cristandade Medieval pela Europa no século XII, por meio de cinco abadias-mães: Cister (1098), La Ferté (1113), Pontigny (1114), Claraval (1115) e Morimond (1115). A Claraval, estavam afiliados a totalidade dos mosteiros cistercienses portugueses. 
Um elo de ligação indirecta entre São Bernardo de Claraval e Portugal dá-se na II Cruzada. Em 1144, os turcos tomam a cidade de Edessa aos cristãos. Dois anos depois, O Papa Eugénio III, cisterciense, emite a bula Quantum Praedecessores e encarrega São Bernardo de pregar a Cruzada em direcção à Terra Santa. O seu apelo é proclamado em vários países europeus, a sua pregação é frenética e entusiasta.


São Bernardo prega a II Cruzada em Vézelay, França.
Fonte: http://www.wikiwand.com/fr/Basilique_Sainte-Marie-Madeleine_de_V%C3%A9zelay

Numa Europa Cristã, a urgência de intervir era um dever e muitos tomaram a cruz como foi o caso do rei de França, Luis VII, o imperador Germânico, Conrado III, além de flamengos, ingleses e gentes da borgonha.
A Cruzada foi um desastre. Nem sequer se conseguiu apoiar os cristãos na Terra Santa nem recuperar o que se tinha perdido. Contudo, os flamengos, ingleses, escoceses, alemães e as demais nacionalidades, costumes e línguas que vieram por mar ajudaram Afonso Henriques a conquistar Lisboa aos mouros em 1147. Foi uma vitória importante na consolidação do Reino de Portugal e na Reconquista Cristã.


Tomada de Lisboa aos Mouros, 1147.
Fonte:http://2.bp.blogspot.com/-YcdHCW2mKbs/VPI9SqjIlHI/AAAAAAAAEG4/XMoieFdxZes/s1600/lisboa_1147.jpg

Como acto de agradecimento ao Santo de Claraval, Afonso Henriques, doa à Ordem de Cister um total de 44 mil hectares de terras em que se inclui a construção do Mosteiro de Alcobaça (1153), no intuito de povoar os territórios recém-conquistados e consolidar os laços com Roma submetendo-se totalmente ao Papa.
Quanto ao Douro, existem referências de especialistas do estabelecimento dos monges brancos ainda antes da independência de Portugal (1143). Esse espaço temporal decorre entre a década de 30 e 40. O especialista francês sobre a Ordem de Cister, Maur Cocheril, afirma sobre Tarouca "que lá havia cistercienses em 1144, que o Abade se chamava João, que os monges procediam de Claraval e que o Prior, portanto o substituto do Abade (pois deve respeitar-se desta vez a hierarquia monástica), se encontrava nesse mesmo ano junto do rei com alguns dos seus confrades." O Mosteiro de São João de Tarouca é comummente aceite como a primeira fundação cisterciense em território português embora persiste uma dúvida em relação à sua edificação de raiz. Pensa-se que teria sido a reabilitação de um antigo mosteiro beneditino dado o número de 8 monges provenientes de Claraval. No caso de uma edificação nova, o envio é de 12 monges da abadia-mãe. Em 1140, D. Afonso Henriques concede carta de couto ao mosteiro (beneditino?) para compensar os frades na ajuda cedida na conquista de Trancoso ao mouros. A presença cisterciense neste período conturbado da história de Portugal firma-se por uma articulação entre o religioso e militar, no avanço cristão e no apoio dos Cruzados em direcção à Terra Santa.

Uma lenda espelhada nos azulejos da Capela-Mor do Mosteiro de São João de Tarouca explica o porquê da vinda dos monges brancos ao Condado Portucalense: São João Baptista aparece a São Bernardo pedindo-lhe que envie os seus monges fundar mosteiros em terras lusitanas; os monges vêem um raio a descer do céu indicando o local para construir o seu mosteiro. Esta lenda de fundação baseia-se na "Crónica de Cister" de Fr. Bernardo de Brito alimentando assim o imaginário dos artistas cistercienses.

A vinda dos monges da Borgonha transformaram e desenvolveram sobretudo a viticultura das regiões do Alto Douro e do Távora-Varosa. Trouxeram com eles as varas (castas) que plantaram e implementaram técnicas que ainda hoje fazem os melhores vinhos do mundo. A próxima publicação debruçar-se-á sobre este assunto.



Imagem
In O esplendor da austeridade




Fontes:
COCHERIL, Maur – Abadias Cistercienses portuguesas. Lusitania Sacra. Lisboa. ISSN 0076-1508. 4 (1959) 61-92
Cister no Vale do Douro / Geraldo J. A. Coelho Dias...[ET AL.]; Coord. Ed. Gaspar Martins Pereira, JOSÉ Ignácio De La Torre Rodriguez, Victor Gomes Teixeira; Fot. Egídio Santos.
http://revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=1043
http://www.mosteiroalcobaca.pt/pt/index.php?s=white&pid=231
http://www.cm-tarouca.pt/patrimonio-historico/patrimonio-edificado
http://www.snpcultura.org/ordem_cister_heranca_cultural_portugal_europa.html









sexta-feira, 29 de abril de 2016

Os mosteiros e as granjas cisterciences

No ano da morte de São Bernardo (1153), existiam na Europa 350 abadias cisterciences, das quais 62 em França. Um século depois, a contagem eleva-se a 650! Um número impressionante para a época. No Vale do Douro, em meados do século XII são erigidos 4 mosteiros: São João de Tarouca (o primeiro em Portugal), Santa Maria de Salzedas, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar.

O local de implantação do mosteiro tinha grande relevo na exigência de Cister: em geral deveria ser afastado dos povoados, ter acesso facilitado à água, ser próximo de campos cultiváveis, ter as condições para a criação de gado e a presença de floresta, tudo numa dinâmica de auto-suficiência. Sob o lema do "Ora et Labora" (reza e trabalha) beneditino, os monges tinham um trabalho intenso a todos níveis, uma vida de oração constante e uma profunda atitude de obediência perante o abade do mosteiro.

O aparecimento de granjas (celeiros e quintas) dependentes da abadia principal mas fora do espaço monacal, num raio de 5 a 20 km, permitiu desenvolver uma boa agricultura e nomeadamente a qualidade do vinho. Estes terrenos apresentavam uma qualidade superior para uma maior variedade de plantação. Cada granja, gerida pelo magister grangiarum e celeireiro, era dotada de uma organização eficiente em que os irmãos conversos (leigos com características de monges) viviam e trabalhavam nela. As granjas funcionavam como uma extensão do mosteiro, em que de acordo com as necessidades, os monges ajudavam no trabalho. As granjas multiplicavam-se por compra ou doação. Em pouco tempo, os monges possuíam dezenas e até mesmo centenas de hectares de terrenos agrícolas de grande qualidade. Muitos destinavam-se à produção de vinhos para a celebração do rito eucarístico. No entanto, com o passar das décadas, o vinho começou a ter fama de tão boa qualidade que os monges foram "obrigados" a vendê-lo para enfrentar as dificuldades económicas, contrariando assim a Regra que proibia qualquer comercialização.

Mosteiro de São João de Tarouca 
Créditos: Daniel Almeida

Fontes:
Do vinho de missa de Cister ao vinho do Porto (a magna karta de 1132) / Altino Moreira Cardoso.

Cister no Vale do Douro / Geraldo J. A. Coelho Dias...[ET AL.]; Coord. Ed. Gaspar Martins Pereira, JOSÉ Ignácio De La Torre Rodriguez, Victor Gomes Teixeira; Fot. Egídio Santos.

Les Cisterciens / Textes Réd. Avec la collab. de Julie Roux; Conseillers Historiques Et Religieux, Les Moines De L'abbaye D'Acey, Nicolas D'andoque.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A Ordem de Cister

A Ordem de Cister foi fundada por Robert de Molesme (1029-1111) na Borgonha (França) em 1099. Monge cluniacense (beneditino), Robert quis procurar novas experiências, novos mundos e essencialmente renovar a sua experiência monástica estabelecendo-se em Cîteaux (Cister), afastando-se assim do relaxamento vivido na abadia de Cluny. A tentação eremítica e a pobreza eram forte, muitos monges queriam um caminho de maior perfeição e de renúncia aos bens materiais, daí uma maior procura de recolhimento na natureza dura, austera e agreste tendo por total observância a Regra de São Bento.

Em 1112, acompanhado de 30 companheiros, o monge Bernardo de Fontaine (1090-1153) chega a Cister. Três anos depois, com tanta afluência em Cister e por ordem do seu superior Santo Estevão Harding, Bernardo foi com 12 companheiros fundar em Clairvaux (Claraval) uma nova abadia. O local era isolado e sombrio mas em pouco tempo tornou-se num vale de luz (Clara Vallis = Claraval) pelo trabalho dos monges em tornar as florestas campos agrícolas e por São Bernardo irradiar uma luz que transformava a vida monástica e apelava para o mosteiro pessoas de todas as classes sociais. A abadia do vale da luz superava os 700 monges.


São Bernardo de Claraval

Fontes:
http://www.snpcultura.org/ordem_cister_heranca_cultural_portugal_europa.html
http://cleofas.com.br/sao-bernardo-de-claraval-monge-mistico-e-profeta/

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Primeiros passos...

Nestes primeiros passos, vou contar uma história verídica que poucos sabem sobre o nosso Vinho do Porto, nomeadamente as suas origens. Como e quando surgiu? Por quem? Mas porquê? Assente em documentação credível referenciada, periodicamente apresentarei dados (que por incrível que pareça) não surgem na bibliografia geral da história de Portugal, do Douro e do actual Vinho do Porto. Esta história incrível envolve, Santos, Monges, Reis, lutas, lendas... e está intimamente ligada ao estabelecimento da nossa nacionalidade (1143) e à sua consolidação. Poderá parecer uma ficção mas os factos ditarão uma realidade de que o vinho de missa da Ordem de Cister foi o precursor do Vinho do Porto.

Quinta dos Canais, Douro Superior.
Créditos: Daniel Almeida